Entre os últimos anos do século
xv e o início do xvi, o príncipe Frederico iii, da Saxônia,
reuniu uma enorme coleção de relíquias de santos
que podia ser venerada uma vez por ano pelos fiéis. Quem o fizesse teria abreviada
a sua passagem pelo Purgatório
em exatos 1.902.202 anos e 270 dias, e anteciparia assim a entrada no Céu.
Esse tempo parece muito longo, mas não representava à época quase nada para os católicos, em vista do que estava
prometido para depois do Purgatório: a vida eterna no Paraíso, junto a Deus.
Esse é um dos episódios relatados por Carlos Eire em Uma breve história da eternidade, que trata da importância que a crença na eternidade teve, durante séculos, para a mentalidade
ocidental.
A preocupação com a imortalidade e a transitoriedade
das coisas remonta aos tempos mais antigos da história do homem. O judaísmo e o pensamento greco-romano, de diferentes maneiras, deram as principais
contribuições para que o cristianismo desenvolvesse
sua visão da eternidade.
Em linguagem acessível, Eire refaz essa genealogia e se detém nas diferentes concepções
que os católicos elaboraram
a respeito da vida eterna – não apenas uma preocupação dos teólogos, mas uma ideia que impregnava
o cotidiano dos indivíduos
e das comunidades.
O autor examina ainda a revolução provocada por Lutero
e o protestantismo, que colocou em xeque as relações dos católicos com os mortos e o post-mortem, e descreve o declínio da crença na vida eterna causado pela secularização
da vida e pelo desenvolvimento
das ciências.
Além de um envolvente relato do passado religioso da Europa, Uma breve história
da eternidade é também uma reflexão sobre o modo como os indivíduos contemporâneos,
depois de abandonarem a fé na eternidade,
passaram a encarar esta questão crucial, que é a finitude da vida.