Se você nunca fez nenhuma brincadeira mais picante com alguém, se nunca foi um pouco além daquele limite que os mais velhos impõem, se nunca riu do ridículo dos outros e de seus próprios atos ridículos, se não teve momentos de solidão e nem foi atormentado pela vontade de ser diferente, não leia este livro.
Ele foi escrito para pessoas que conseguem se divertir mesmo quando o mundo em volta é a maior chatice.
E me diga: existe lugar mais chato do que um edifício cheio de proibições em uma grande cidade em que as pessoas não podem ter liberdade?
Pois bem, este livro se passa em um edifício assim. Ou melhor: que era assim, pois um grupo de pré-adolescentes muda totalmente a forma de viver e de conviver.
Eles não são seres especiais, mas jovens comuns que encontramos todos os dias, com os problemas típicos da idade mas também com grande gulodice pela vida. Com muita curiosidade. É a curiosidade que faz com que não aceitem as coisas como elas são.
Neste mundo excessivamente realista que é o edifício, Alonso Alvarez cria um lugar utópico. Os personagens não precisam ir para o campo, para castelos, selvas ou outras cidades. Rompem com a monotonia da vida ao descobrirem um mistério.
O porquê do prédio não ter um dos andares – o 11.º.
Todos aceitam isso. Ninguém se incomoda com o fato de o elevador saltar do décimo para o décimo segundo andar.
Mas os jovens acabam abrindo uma passagem, podendo assim frequentar este espaço mágico e participar de experiências que serão definitivas em suas vidas: o contato com o maravilhoso e com perigosos textos. O mundo da fantasia e o da realidade se misturam, permitindo que eles se encontrem a si mesmos. E tudo isso é narrado em episódios muito engraçados.
E esta é a grande qualidade do livro: o seu humor adolescente, escancarado, que não tem limites. Os inimigos dos jovens são os que levam a vida de forma rigorosa, definindo quais são os comportamentos corretos, julgando todo mundo. O vilão, como em todo prédio, é o síndico, sobre quem recaem as brincadeiras dos meninos, que riem de tudo, principalmente de suas próprias trapalhadas, por isso cada um tem um apelido original, arranjado pelos demais. Alonso cria os personagens de forma tão cativante que nos tornamos parte da turma, ficamos amigos de todos e queremos, com eles, ver o que se passa neste andar inexistente.
Ler este livro é participar da mais genial das voltas ao mundo, esta que se faz mesmo em um quarto fechado, quando aprendemos a abrir brechas na realidade cotidiana.