De fácil e profunda leitura, o livro analisa criticamente as formas sistemáticas, estratégicas e coesivas que o Estado brasileiro desenvolve, principalmente a partir de 1930, para enfrentar o conjunto de problemas econômicos, sociais, políticos, culturais e ideológicos que cerca a emersão da classe operária como sujeito sociopólitico no marco da sociedade capitalista, ou melhor, para o que está sinalizado em nossa bibliografia como "questão social". A compreensão dessas formas supõe uma análise consistente de manifestações da ideologia autoritária que a intelectualidade brasileira veiculou no período analisado. Tem-se como marco que o enfrentamento da "questão social" por parte do Estado e a elaboração do pensamento político brasileiro se entrosam e possuem um sentido: o processo de modernização e de expansão do capitalismo no Brasil.
Durante toda a leitura é possível constatar que entre nós o projeto burguês esteve sempre divorciado do pacto democrático. Aqui, o processo histórico da revolução burguesa não se instaurou nem configurou como instaurador quer de uma tradição política nem uma cultura democrática - sequer no sentido posto pelas vertentes liberais.