“Escrever alivia, é o único desabafo”, diz a certa altura o angustiado personagem narrador de "Crime de Honra". Além disso, abrir as janelas e uivar até sentir gutural a letra inicial do nome de quem ama – é o que pode fazer esse narrador, atormentado pelo desejo e assediado por sua própria homofobia. Essa é uma das chaves do breve romance de Cassandra Rios, romance escrito num jorro só, ou melhor, num uivo só. Texto em modo confessional, "Crime de Honra" ecoa vozes como as de James Baldwin, de Caio Fernando de Abreu e outras contribuíram para melhor compreensão da epistemologia do enrustimento (como define Eve Kosofsky Sedwgick), o armário em que se encerra o desejo de tantos aparentes heterossexuais. Mas não espere um tratado psicológico: Cassandra de "Crimes de honra" é a autora conhecida de tantas gerações, escritora coloquial, direita, que se consegue que penetrar na mentalidade masculina mais enraizada em nossa cultura.