Em pai é Pai? Narrativas para além do divã, somos convidados à reflexão sobre a importância do diálogo com nossos próprios Eus, dando voz e vez aos nossos inconscientes, àquilo que nos foi forjado desde a concepção até a vida adulta. São testemunhos vivenciados por quem sobreviveu e, de certa forma, superou um ambiente familiar em que prevaleceu a violência doméstica, de um ser que nunca soube ser um Pai de fato: um esposo que agredia a esposa e nunca se dedicou aos filhos. Narrativas que permitem nossa reflexão e análise sobre o papel social de pai e da função paterna.
Com muita coragem, o autor revela suas vergonhas e seus sofrimentos causados por “ele”, seu pai com p minúsculo, que, em vida, traumatizou toda a sua família. As narrativas criam um setting em que o autor é um narrador de si, em conversa com o seu personagem do inconsciente, o GJe, permitida sua expressão pública após anos de existência represada. Uma busca incessante pela sua superação dos traumas que o atormentaram desde muito cedo ou a “cura também pela escrita” em duo com “a cura pela fala” no divã de sua analista.
Sim, este é um texto que reforça a potência da Psicanálise para o tratamento de sofrimentos psíquicos, a exemplo do que acometeu o autor na pandemia da covid-19. Para além da medicação que o recuperou de uma fase mais aguda, foram, e são as suas sessões de terapia psicanalítica, há quatro anos, que lhe permitiram e permitem caminhos para ver-se de fora para dentro e vice-versa, movimentando-se em direção ao seu inconsciente, em (re)descobertas e ressignificações como sujeito. Assim, somos surpreendidos com a sua recuperação e seu processo de libertação de amarras de anos a fio, sem respostas absolutas. Não é uma literatura de tons narcisísticos, de autoajuda ou receita para o sucesso, mas uma entrega para você, leitor(a), de uma vida. Uma existência em constante metamorfose ambulante, provocada por bons gatilhos disparados em um divã. Um convite para possíveis atravessamentos, identificações, múltiplos significantes e significados. Ou será que o autor está só?