O livro Traço e escritura: a dimensão do fantasma, da fantasia no desenho infantil apresenta uma triangulação entre o traço, a dimensão da fantasia e do fantasma, e a questão dos sonhos na perspectiva do conteúdo latente. A partir de uma leitura Freudo-Lacaniana e da apresentação de dois casos clínicos, escutados em transferência, interrogo sobre qual é o lugar do desenho na constituição psíquica de uma criança. Com base em tal indagação, propus ler, nos desenhos infantis, as fantasias e o fantasma que são subjacentes a esse recurso, os quais se apresentam sob os moldes do conteúdo latente e pensamento manifesto. O recurso do desenho promove uma “Outra cena” para o sujeito, como preconizou Flesler (2012). Ao levar em conta essa cena, foi possível ler os tempos de constituição edípica na estrutura psíquica das crianças, bem como a construção no matema do fantasma. Utilizo a topologia lacaniana, em especial os Círculos de Euler, a fim de identificar graficamente a alternância de posição à qual a criança inicialmente está submetida. Em termos do percurso da pesquisa, movida pelas proposições de Alba Flesler (2012), fundamentadas nos preceitos teóricos e éticos psicanalíticos, formalizo uma grelha apresentada em três tempos, compondo os tempos de constituição edípica, apontando para o predomínio do registro e na representação no desenho; os tempos de construção na fórmula do fantasma, representando graficamente por meio dos Círculos de Euler; e a representação no desenho. Por último, utilizo o paradigma do sonho em Freud (1900/1996) para ler o desenho naquilo que encontramosressonância, a saber: o pensamento manifesto, o conteúdo latente, a condensação, o deslocamento, a sobredeterminação, a dramatização e a figurabilidade. O desenho, portanto, ocupa um lugar de mostração, no sentido de revelar tanto os tempos subjetivos quanto a fragilidade destes, promovendo, a partir dessa Outra cena, um retorno a tais
tempos com um caráter elaborativo, comprovando o potencial psicoterapêutico dessa ferramenta, pois, a partir do grafismo, a criança posiciona-se diferentemente diante de si e dos outros.