Em 13 de maio de 1833, ocorreu no sul de Minas Gerais a insurreição escrava mais sangrenta do Sudeste do Império, em que morreram 33 pessoas — 21 escravizados, 9 membros da família Junqueira (incluindo 3 mulheres e 3 crianças), 1 agregado e 2 “pessoas de cor”. Conhecido como a Revolta de Carrancas, o episódio resultou na maior condenação coletiva à pena de morte da história da escravidão no país.
Caramurus negros: a revolta de escravos de Carrancas — Minas Gerais (1833), com organização e posfácio do historiador Marcos Ferreira de Andrade, é fruto de mais de trinta anos de pesquisa. O livro contém a transcrição de parte dos autos do processo-crime da revolta e um posfácio que mostra como as elites regionais e o próprio Estado imperial lidaram com os rebeldes insurgentes.
Autodenominando-se “caramurus”, um dos agrupamentos políticos do pós-Independência, os rebelados afirmaram seu protagonismo diante das identidades em disputa na construção do Estado nacional. A revolta dos escravos de Carrancas deve ser compreendida dentro desse contexto de intensos conflitos e repressão militar.
Ao trazer à tona parte da história e das lutas de personagens como Ventura Mina, André Crioulo, Antônio Benguela, Joaquim Mina, Antônio Rezende e tantos outros que os acompanharam, o episódio permite-nos compreender não apenas as hierarquias, alianças e disputas que se estabeleciam no dia a dia da vida em cativeiro, mas também os sonhos e projetos de liberdade acalentados pelos cativos.
Ainda que pudessem imaginar as graves consequências de participar de uma insurreição e tenham sido derrotados e punidos de forma exemplar, naquele 13 de maio os audazes “caramurus negros” colocaram em prática seus projetos de liberdade e, assim, entraram para a história.