“Nunca houve nada em que eu acreditasse, mas se existir um deus, ele é o mesmo deus para mim e para o poeta palestino Najwan Darwish”
Raúl Zurita
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Najwan Darwish (Jerusalém, Palestina, 1978) é um dos principais poetas de língua árabe de sua geração, traduzido para mais de vinte línguas. E esta é a primeira vez que temos a chance de ler os seus poemas em português, colhidos de três dos seus livros publicados até aqui. Se não é uma antologia exaustiva, sem dúvida é uma consistente apresentação da força (ou ainda: do campo de forças) da poesia palestina contemporânea. Logo de cara, um assombro: “não há homem livre com quem eu não tenha parentesco, e não há uma única árvore ou nuvem à qual eu não seja devedor.”
A tradução do poeta Thiago Ponce de Moraes que temos em mãos foi realizada na companhia do próprio Najwan Darwish, ao longo de mais de sete anos de trabalho, em que foram cotejadas muitas das traduções publicadas em outros cantos do mundo. Aliás, o livro é muito coerente com a trajetória de Thiago, que tem se destacado como um dos poetas mais interessados em criar relações multilaterais do Brasil com outros países, ao representar nosso país em diversos festivais internacionais de grande importância, e atuando como o coordenador brasileiro do World Poetry Movement.
O encontro de Najwan Darwish e Thiago Ponce de Moraes é uma alegria e um presente para todos nós, leitores de língua portuguesa. Em um ano assombrado pelo genocídio, em que testemunhamos uma espécie de “solução final” para a destruição em massa de vidas e territórios da Palestina, a voz de Darwish traz notícias de um país ao qual não se tem acesso nos jornais ou nos livros de História. Sua poesia, como escreve Thiago, é uma força política na medida em que “apresenta a sua presença, acentuando o caráter daquilo que existe.” Ou ainda, quando traduz as palavras de Darwish: “meu desprezo por sionistas não vai evitar que eu diga que eu fui um judeu expulso de Andaluzia, e que eu ainda teço sentidos a partir da luz daquele sol se pondo.”