A EDITORA CONTRACORRENTE tem a satisfação de anunciar o lançamento do livro “Em nome da Mãe”, da vencedora da terceira edição do Prêmio Marielle Franco de Ensaios Feministas, Nádia Recioli. Criado com o objetivo reverenciar a memória e a luta da ex-vereadora assassinada, a premiação incentiva o pensamento feminista.
O tema central da reflexão proposta pela autora é a propriedade do corpo feminino e o papel da mulher na sociedade. Nádia faz isso analisando a estrutura do poder masculino, tendo como ponto de partida as evidências e as crenças estabelecidas. Nas palavras da prefaciadora Maria Stella D’Agostini, trata-se de “um debate há muito cerceado em espaços acadêmicos ou movimentos sociais”.
A autora acredita que a forma como mães e bebês são tratados em sociedades patriarcais promovem implicações sociais e políticas, determinando o tipo de tipo de sociedade que se constrói. “E o caminho inverso também pode ser trilhado: a sociedade que construímos reflete os sujeitos que somos, que reflete a maneira como tratamos nossas mães e bebês”, explica Nádia Recioli.
"A sistemática cisão conceitual entre maternidade e política social, seu isolamento e confinamento, somados à disseminação generalizada dos métodos de separação entre mães e bebês no início da vida, formam um conjunto de estratégias eficazes no ocultamento de aspectos importantes da vida humana, cuja compreensão ameaça o patriarcado em suas bases. Tais aspectos são da ordem das pulsões vitais, se inscrevem no limiar entre o corpo e a linguagem, entre a subjetivação e a alteridade, entre a criação e a dádiva, entre o “natural” e o “cultural”, e nos informam sobre a existência do erotismo materno, da libido convertida em ternura e da possibilidade da saciedade. Não por acaso, são noções escorregadias à racionalidade binária em que nossa mente patriarcal foi treinada. Faltam-nos, muitas vezes, as palavras que possam definir de maneira mais precisa tudo o que se refere à repressão da sexualidade materna e suas implicações subjetivas e sociais. Esse ensaio se soma aos esforços de tornar visíveis, dizíveis e palpáveis a multiplicidade de afetos e sentidos produzidos pela experiência transcendente e anárquica do “outro em si”, assim como as nefastas consequências de seu apagamento simbólico e factual. No dia em que isso finalmente for alcançado, assistiremos ao desmoronamento do poder, junto com todos os seus aparatos de repressão, disciplinamento e controle: a lei escrita, o casamento, a família n