Um livro de culinária que tem como linha condutora memórias afetivas e familiares. Essa, entre outras, pode ser a definição da obra Beabá da Bessarábia à Bahia – Histórias e receitas, escrita pela baiana Sulamita Tabacof. O conjunto de relatos saborosos desemboca em receitas que unem dois mundos e duas culinárias: a judaica e a baiana. A primeira receita do “banquete” de Sulamita é o guefilte fish (bolinho de peixe), para o qual ela sugere diferentes opções de peixe a depender da região, de modo que o local não seja um impedimento para fazer e saborear o prato. O tom afetivo e coloquial do texto de Sulamita remete às conversas com familiares e amigos na cozinha de casa: “eu uso a medida de uma colher de sopa cheia para cada bolinho e moldo em formato oval. Mas os bolinhos podem ser redondos e de qualquer tamanho”, explica a escritora, perdoando quem não conseguir dar à iguaria a mesma aparência retratada nas fotos que ilustram o livro. Da culinária local, ela ensina o passo a passo de pratos como a feijoada baiana, a moqueca de peixe e a farofa de dendê. Dos pratos judaicos clássicos, estão lá, muito bem explicados, como a professora Sulamita bem sabe ensinar, o strudel, que em vez de ser de maçã virou de banana, e o farto e generoso tchulent, que mistura diferentes tipos de feijões e grão de bico às carnes defumadas que usamos na nossa feijoada. Depois disso, e até a última página, encontram-se muitas outras histórias e delícias de um jeito que só mesmo Sulamita é capaz de contar. Na contracapa, uma revelação: a autora foi professora de Caetano Veloso na Bahia e em seu depoimento para o livro o artista afirma que foi ela que lhe apresentou muitos dos sentidos do judaísmo e do comunismo. “Lembrar de Sulamita é acender um raio de luz dentro de mim”, conclui Caetano.