A Cobra Verde

João Sílvio do Amaral Prado

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"“A casa deles ficava no alto de uma montanha, uma paisagem divina que misturava floresta e mar conforme a direção do olhar. Quando a noite caía, todos os bichos ensaiavam um arremedo de sinfonia rouca, rompida eventualmente por silvos agudos e insistentemente lineares, contínuos e sublimemente. Havia outras casas, longamente espaçadas, havia também ruas limpas com pedras lindas em calçadas sinuosas; o bairro era, indisfarçadamente, de difícil acesso, em todos os sentidos, para quem tivesse pouco dinheiro e pouca alma para compreender a rigorosa, e, paradoxalmente, flexível estética da natureza. Vez por outra, os dois saíam de braços dados como recém-namorados cheios de paixão e ficavam serpenteando, ora acima, ora abaixo, falando bem mansinho, quase sussurrando para não atrapalhar a orquestra dos bichos, plantando, de vez em quando, os olhos nas estrelas que estalavam no céu limpo. Havia em tudo uma geometria singela acoplada a um estranho brilho passional que fermentava do mar manso e gigante mesmo lá de cima, onde o rumorejar das folhas ao vento, suavemente cortante, era um bálsamo para os espíritos. Era tão etérea e bela a atmosfera, que chegava-se até a adivinhar-se a linguagem das folhas pressentindo o enfarruscar do tempo com exatidão. Era assim a vida deles até aquele dia e nada, nada mesmo!, a não ser as tais das imponderabilidades existenciais, indicava que aquilo não era felicidade, no sentido mais simples e menos camaleônico da palavra.”"