"Embora situado em São Paulo, o prédio de Jamille tinha uma incrível
semelhança com o de Maria no Rio, ambos em ruas lindas, arborizadas, isoladas do
barulho infernal dos ônibus e carros, prédios baixos e tombados pelo Patrimônio
Histórico, claro que muito antigos, janelas imensas de madeira de demolição coloridas
de um azul semicintilante e metálico, sem elevadores, com, no máximo, quatro
andares e, precisa dizer mais?!, coincidência ou não, ela também morava no quarto
andar, coincidência ou não, todas as janelas dos quartos e da sala eram quase que
sutilmente tangenciadas pelas copas aparadas das árvores, podadas com tanto carinho
e com tanto balanceamento intuitivo dos bombeiros, que só poderiam crescer mesmo
para cima e, houvesse inclinação, seria tão pequena quanto até elegante.
Havia, sem dúvida, um mistério ligado a estética e bom gosto naqueles dois
quarteirões tão iguais em Estados tão diferentes como Rio e São Paulo. Podia até não
ser surpreendente a semelhança entre as duas mulheres, Jamille e Maria, mas até a
decoração dos interiores dos apartamentos e as inclinações artísticas convergiam."