"Preso ao corpo, imóveis, ele e a cama, só os olhos falavam e mexiam, me seguiam
por todo o quarto, até onde me alcançavam e mesmo quando não me viam, me
atormentavam, sentindo-os grudados em mim. E, mesmo nos poucos momentos em
que parecia dormir, bastava um leve farfalhar da cortina e eles se abriam assustados,
como que arrastados de outras e sombrias dimensões. Ele sempre se assustava
quando acordava. Eu não conseguia deixar de pensar que, nessas ocasiões, havia de
se encontrar com seus tormentos e tinha a exata noção do que o esperava quando
fechasse os olhos em definitivo. Não, não desejava nenhum castigo ou lançava
maldição alguma. Já tinha tido o suficiente vivo mesmo. Experimentava o inferno há
algum tempo. Não seria mais necessária qualquer amostra do que os deuses são
capazes quando não gostam da gente."