LivrosFicçãoContemporâneos BrasileirosPassos Perderam Possibilidades Peregrinas

Passos Perderam Possibilidades Peregrinas

Evandro Affonso Ferreira
R$ 59,00
Quantidade
Apesar de o livro ter como eixo narrativo, ou ponto de partida narrativo, fatos concretos como a morte da mãe, mulher (Dora) e a do gato (Altazor), não é um livro ocupado com o factual em primeiro plano. O texto é linguagem e é ela que captura e encanta o leitor. A comunhão do livro com a linguagem é tanta que Evandro parece descansar da dor para falar do trabalho de tradução intrinsecamente ligado à linguagem. Mas só parece porque, imediatamente, falar do trabalho o devolve a outras profundidades da ausência, invocando Dora ou Altazor nominalmente, presentificando, a cada camada discursiva, a dor, a falta, o sem sentido. Dora e Altazor estão sempre lá, presentes nas diversas camadas discursivas. O nome de ambos é mencionado numa invocação, que, mais do que reconvocar o gato e a mulher à cena da rotina cotidiana do narrador devastada pelas duas perdas, esta invocação marca uma presença constante dimensionada pela vastidão da falta dolorosa. Lembranças de fatos remotos e recentes têm a mesma espessura cronológica, como se fossem simultâneos porque a única referência é o tempo da perda, só ele é exato e perpétuo. É como se Evandro não falasse só da morte dos que morreram, mas também da dos que ficam, até porque ele toca também nesta espécie de morte que é esta solidão coletiva nas grandes cidades de apartamentos pequenos, onde o trabalho solitário (o tal home office, digamos, mas também que já havia antes dele) não é companhia, e sim testemunha da solidão. Quanto ao José Paulo Paes, acho que somente o leitor mais atento ou que conheça o trabalho de JPP saberá que o livro o homenageia de certa forma. Ele é mencionado, mas outros autores também o são.