Este livro, publicado sob o título Vidas, é uma coletânea de contos do cotidiano, inspirados nos mais elevados sentimentos de amor que acompanham as pessoas sensíveis no seu dia a dia.
Laços familiares se encontram em Vidas. Nas várias vidas, reais ou fictícias, que pululam “nas conversas das mulheres interioranas sentadas em cadeiras nas calçadas” de suas casas ou “nos olhares expressivos e misteriosos das mulheres de Abu Dhabi”. São histórias que se descortinam nas “janelas” que se abrem para o mundo.
As emoções vividas na infância e na adolescência da autora mesclam-se na construção dos perfis de seus personagens. Cada um tem algo dela, enquanto ela penetra no universo existencial de todos eles.
O livro reúne flagrantes do cotidiano, tão caros a todos nós e que, muitas vezes, passam ali tão despercebidos, e são resgatados pelas mãos ardilosas de quem tem a observação como ofício e necessidade de vida. Seja sobre o desespero de um pai humilde numa floricultura (A magia da flor e da floricultura ), para conseguir uma coroa de ores e sepultar o filho com dignidade. Ou da pungente narrativa de uma mãe que também perdeu um lho (Órfã de filho) e ainda espera que “a saudade me chegue vestida com a felicidade da lembrança dos bons momentos vividos” .
Não escapa aos olhos da contista o passar inelutável do tempo que traz rugas e mais rugas, “troféus que, apesar de mostrarem que não sou mais jovem, me conferem que não preciso ser a melhor, já sou diferente” (Troféu do tempo). Um tempo de presente, mas também e, especialmente, de passado. O registro é docemente singelo no conto “O tão presente passado”, quando resgata as reminiscências dos tempo dos engenhos de cana de açúcar, quando havia “glória e fartura”. Esse resgate com tintas de melancolia revela o lado mais sensível da escritora que, um dia, talvez tenha sido também, a seu modo, uma menina de engenho.
Noutro momento, emerge no livro da estreante contista o cotidiano tão caro aos brasileiros, em tempos de violência, quando narra sobre “um jovem de 17 anos, que perdeu um irmão para as drogas” (Viver). É um aspecto fundamentalmente contemporâneo da realidade brasileira, com todas as suas nuances mais cruentas de uma violência que ceifa vidas, não perdoa os que amam os seus, e não sinaliza por um linimento que venha com o “viver”. O viver é apenas isso mesmo, num país de tantas desesperanças, tantas desigualdades e poucas luzes no m do túnel. É um registro quase inevitável.