Este estudo propõe um exame da construção e do modo como Machado de Assis elabora suas personagens e seus narradores em Contos Fluminenses (1870) e Histórias da Meia Noite (1873). Se considerarmos a imagem principal que une as treze narrativas desses livros, veremos que todas a exceção aparente é Aurora sem dia, são histórias de amor que têm como imagem central o casamento, seja nos preparos que antecedem o contrato ou em seus aspectos cerimoniais, seja na intimidade conjugal dos lares já concebidos. Mais do que isso, há um elo maior entre as histórias, e uma imagem que se afirma como preponderante; o fracasso do casamento. As mocinhas e heróis machadianos são construídos mediante as dificuldades e os problemas matrimoniais, decorrentes muitas vezes de imposições paternas, antagonismos sociais ou das expectativas (mediadas, sobretudo, pela literatura) amorosas dos envolvidos no contrato. São essas personagens, em última hipótese, que veiculam essas imagens de fracasso e as apresentam aos leitores. Mas nesse processo de captação do amor e do casamento aparece quase sempre um narrador a sussurrar no ouvido do leitor algo acerca da personagem e da imagem amorosa construída por ela. Dessa forma, as imagens e cenas matrimoniais são filtradas (e desestabilizadas) pelas exposições de personagens e narradores, uns a intervirem na concepção amorosa de outros.