Às estréias, sejam quais forem, sempre correspondem esperanças. Espera-se que, juntos, vocação e acaso cumpram no tempo o destino anunciado.
Com este Aguadeiro, volume de estréia da jornalista caxiense Alessandra Rech, realimentam-se todas as esperanças – porque a autora demonstra a virtude essencial, aquela que somente espera pela mão do acaso para cumprir o destino anunciado. Numa reunião de 44 contos divididos em quatro partes, Alessandra revela-se narradora segura, com um senso de humanidade que beira a doçura. Seja matando uma aranha, seja no mergulho em águas salgadas, seja no tecer de reminiscências, a nova escritora leva o leitor a uma singular experiência, sempre valendo-se de uma grande habilidade ao construir sua prosa.
Tendo trabalhado como repórter e editora de jornal, Alessandra traz das redações um sólido senso de observação, olhar certeiro que cata no cotidiano os fatos expressivos e importantes. Esquivando-se de juízos de valor a priori, Alessandra monta seus contos de forma a propiciar a seu leitor o prazer da estranheza, essencial ao gênero a que se dedica.
Tendo como mote a água e a ?uidez das formas, a jornalista – também cronista e mestre em Cultura Regional pela Universidade de Caxias do Sul, maneja um léxico elegante, talhando-o na forma precisa do conto. Melhor: consegue extrair fabulações daquilo que seria apenas menção rápida e datada no jornal ou no noticiário.
Àqueles que amam a literatura e que torcem pelo surgimento de novos autores, alvíssaras. Nasce uma escritora.
Cíntia Moscovich