Grande helenista, a quem nem sequer falta boa formação em duas especialidades pouco cultivadas no nosso país - a crítica textual e a métrica grega -, pôde Frederico Lourenço levar a bom termo esta tarefa tão difícil de executar, uma tradução em verso solto, cadenciado mas não espartilhado, próximo da literalidade, mas não por ela escravizado, preservando as fórmulas e epítetos, que, quer sejamos oralistas quer não, são características do estilo homérico. [...]
O aparecimento desta nova versão nem precisa de ser justificado. Corresponde a uma fase muito diferente da compreensão dos Poemas Homéricos (note-se que digo apenas "muito diferente", porque a compreensão total de uma obra-prima talvez não possa nunca atingir-se em plenitude) e provém de um helenista com as qualificações de ordem linguística, literária e estética necessárias para ser bem sucedido. Deste modo se tornou acessível, e mesmo apetecível aos não especialistas, uma obra que é de todos os tempos.